A Inovação Que Vem da Guerra
É raro, mas sempre acontece. Toda vez que o mundo entra em estado de tensão militar, uma nova leva de inovações tecnológicas é acelerada. A guerra, infelizmente, continua sendo um dos motores mais poderosos da inovação. Não por idealismo, mas por necessidade extrema.
Foi assim no passado — e está sendo assim de novo. A internet nasceu como um projeto militar (ARPANET). O GPS foi criado para localização de mísseis. O forno de micro-ondas surgiu de pesquisas em radares. E hoje usamos drones para fazer entregas e captar imagens em eventos — mas eles começaram como armas de guerra. A história é clara: tempos de conflito colocam bilhões de dólares em circulação, estimulando soluções que depois são adaptadas ao uso civil.
Agora, vivemos mais uma fase crítica. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos acaba de assinar um contrato de US$ 200 milhões com a OpenAI. O objetivo? Usar os algoritmos da empresa — os mesmos que você usa para escrever, criar e organizar ideias — no campo da defesa militar. Não se trata de ficção. Trata-se da mais pura realidade estratégica, onde o acesso à inteligência artificial de ponta pode definir vitórias silenciosas ou derrotas devastadoras.
A Microsoft também já está dentro do jogo, com seus óculos de realidade aumentada que oferecem suporte a pilotos de caças e soldados em campo. A Meta, por sua vez, fornece tecnologia similar para o exército americano. E não é só nos Estados Unidos. Na Europa, uma nova potência está nascendo: a Helsing. Com US$ 600 milhões recebidos do fundador do Spotify, a startup se tornou a maior promessa europeia no uso de IA aplicada à defesa. Ela já fornece sistemas de análise em tempo real para Ucrânia e aliados da OTAN. A empresa é clara ao afirmar que sua missão é proteger as democracias liberais com ajuda da tecnologia.
Tudo isso aponta para uma verdade desconfortável: as guerras são, há séculos, o campo fértil mais sombrio da inovação. Elas forçam governos a investir em tecnologia de maneira descomunal, acelerando avanços que levariam décadas em tempos de paz. E, ironicamente, esses avanços acabam moldando a sociedade civil, transformando nosso dia a dia.
Quem dera fosse diferente. Quem dera evoluíssemos em tempos de paz. Mas, por enquanto, seguimos presos nesse paradoxo histórico — onde o impulso da destruição antecede os maiores saltos de progresso. Cabe a nós, como sociedade, encontrar formas de canalizar esse poder criativo para outros campos antes que o conflito nos force a fazer isso à força.