Apple I: o computador de garagem que mudou a história da tecnologia
Em 1976, dois jovens entusiastas da eletrônica criaram, em uma garagem na Califórnia, o primeiro produto de uma empresa que viria a redefinir a tecnologia global: o Apple I.
Desenvolvido por Steve Wozniak e comercializado por Steve Jobs, o Apple I foi mais do que apenas um computador — foi o símbolo de uma nova era, onde a computação pessoal deixaria de ser exclusividade de grandes corporações e universidades para chegar às mãos do público comum.
Como foi feito
O Apple I foi desenvolvido por Wozniak praticamente sozinho, como um projeto pessoal. Jobs, ao ver o potencial comercial da máquina, propôs vendê-lo. Sem recursos financeiros ou uma infraestrutura empresarial, os dois recorreram a medidas ousadas: Jobs vendeu sua van Volkswagen e Wozniak, sua calculadora científica HP, para levantar cerca de US$ 1.300 e iniciar a produção.
O primeiro lote foi vendido para a loja Byte Shop, uma das primeiras lojas de computadores pessoais, que encomendou 50 unidades ao preço de US$ 500 cada — com a condição de que fossem entregues já montadas. Isso foi um divisor de águas: enquanto outros computadores da época eram vendidos em kits, o Apple I já vinha parcialmente pronto para uso.
Detalhes técnicos
Comparado aos padrões atuais, o Apple I parece incrivelmente primitivo. Mas na época, ele representava um avanço extraordinário:
Processador: MOS 6502, rodando a 1 MHz.
Memória RAM: 4 KB (expansível para 8 KB ou 48 KB).
Armazenamento: os dados eram carregados e salvos em fitas cassete.
Vídeo: saída para monitor de vídeo com 40 colunas por 24 linhas de texto.
Teclado: integrado ao sistema, sem necessidade de periféricos adicionais.
Sistema operacional: não havia um sistema operacional no sentido moderno. O usuário interagia diretamente com o monitor de máquina ou carregava programas básicos em BASIC.
O computador era entregue em uma placa de circuito montada, mas sem gabinete, teclado ou monitor. Muitos usuários criavam suas próprias carcaças — como a da imagem acima, feita em madeira.
Onde conseguiram as peças?
Wozniak utilizou componentes baratos e acessíveis na época. A escolha do processador MOS 6502, por exemplo, foi uma jogada inteligente: ele custava apenas US$ 25, enquanto concorrentes como o Intel 8080 custavam até quatro vezes mais. As placas eram montadas manualmente na garagem dos Jobs, com ajuda de amigos e familiares, que montavam os circuitos com solda e parafusos.
Comparação com um computador atual
Hoje, um smartphone de entrada tem mais poder de processamento do que um supercomputador da década de 1970. Para se ter ideia:
Um iPhone moderno roda a cerca de 3 GHz, 3.000 vezes mais rápido que o Apple I.
Um celular comum possui de 4 a 16 GB de RAM, contra os 4 KB do Apple I.
Enquanto o Apple I precisava de fitas cassete para salvar dados, hoje temos armazenamento na nuvem com acesso instantâneo e seguro.
Ainda assim, o Apple I marcou o início de tudo. Sua maior inovação não foi técnica, mas filosófica: ele tornava possível imaginar um computador como ferramenta pessoal, acessível, integrada, e orientada ao usuário.
Importância histórica
O Apple I inaugurou uma revolução silenciosa. Ele inspirou toda uma geração de desenvolvedores, curiosos e engenheiros. Foi o embrião do Apple II, que consolidaria a Apple como uma potência. A ideia de um computador fácil de usar, elegante e projetado com foco na experiência do usuário está presente até hoje nos produtos da empresa.
Além disso, o Apple I é símbolo do espírito hacker e empreendedor que caracteriza o Vale do Silício: a crença de que com conhecimento técnico, ousadia e um pouco de improviso, é possível mudar o mundo.
Atualmente, poucas unidades originais ainda existem — e são altamente valorizadas. Em leilões, modelos originais do Apple I já ultrapassaram os US$ 500 mil.
Se o Apple I era um simples amontoado de fios e circuitos há quase 50 anos, hoje ele é um ícone. Um lembrete de que as maiores revoluções podem começar de forma modesta — desde que impulsionadas por uma visão.