Bets, Ozempic e a Queda na Venda de Alimentos
Os Impactos Invisíveis que Afetam o Setor de Alimentos.
Nos últimos anos, dois fatores externos ao setor alimentício começaram a moldar silenciosamente a indústria de alimentos no Brasil: o crescimento exponencial das apostas online e a popularização de medicamentos como o Ozempic, amplamente utilizado para controle de peso.
Ambos representam mudanças de comportamento do consumidor que estão provocando efeitos profundos na economia familiar e no desempenho dos supermercados.
Comecemos pelas apostas. Desde a legalização das apostas esportivas em 2018, o Brasil viu esse mercado disparar. Em 2023, ele movimentou mais de R$ 100 bilhões, equivalente a 0,22% do PIB nacional.
Pesquisas apontam que cerca de 33 milhões de brasileiros de baixa renda já participaram de apostas esportivas, sendo que 22 milhões apostam mensalmente. O impacto disso é direto:
19% dos apostadores relataram ter reduzido compras em supermercados devido às perdas financeiras com apostas
20% utilizam dinheiro que seria destinado ao pagamento de contas ou à compra de alimentos.
Nas classes D e E, as apostas agora representam 1,38% do orçamento familiar, o que equivale a 76% das despesas com lazer e cultura ou 5% dos gastos com alimentação.
Outro ponto de atenção é o consumo de medicamentos como Ozempic. Embora destinado ao tratamento de diabetes, ele tornou-se um fenômeno global devido à sua eficácia na perda de peso. Isso tem impactado diretamente os hábitos alimentares.
Estudos mostram que consumidores que utilizam Ozempic reportam uma redução significativa no apetite, levando à diminuição no consumo de itens como snacks, refrigerantes e outros alimentos não essenciais.
Nos Estados Unidos, supermercados relataram quedas nas vendas de produtos altamente calóricos, como sorvetes e salgadinhos. O Brasil começa a sentir esse impacto, especialmente em regiões urbanas onde o uso do medicamento é mais disseminado.
Esses dois movimentos aparentemente desconectados revelam um mesmo padrão: a capacidade de fatores externos, que não pertencem diretamente ao setor alimentício, de impactar profundamente o mercado.
Em ambos os casos, a renda destinada à alimentação é desviada, seja por conta de apostas ou pela supressão do apetite causada por medicamentos.
Implicações:
Redefinição do Consumidor: Supermercados e varejistas precisam adaptar suas estratégias para um consumidor cuja renda e comportamento alimentar estão mudando drasticamente.
Impacto na Indústria de Alimentos: Fabricantes de produtos alimentícios precisam reavaliar portfólios, priorizando itens mais saudáveis ou alinhados às novas demandas do consumidor.
Regulação e Políticas Públicas: É essencial que haja uma regulamentação mais robusta para o mercado de apostas, ao mesmo tempo em que a indústria farmacêutica deve ser chamada a discutir os efeitos colaterais desses medicamentos na economia como um todo.
Questões Importantes:
Como os supermercados podem prever e reagir a mudanças no comportamento do consumidor que vêm de fora do mercado alimentício?
Que oportunidades surgem para produtos que se alinhem à nova realidade de consumo, como alimentos saudáveis ou de apelo funcional?
Até que ponto fatores externos, como medicamentos e apostas, podem se tornar novos indicadores macroeconômicos relevantes?
Conclusão
A economia atual não segue mais os padrões lineares de previsibilidade. Comportamentos aparentemente isolados podem ter impactos profundos e amplos em setores inesperados. Para o mercado de alimentos, entender e antecipar esses sinais tornou-se essencial para a sobrevivência e o crescimento.
Qual sua visão? Você acredita que estamos preparados para lidar com as transformações que fatores externos estão trazendo ao mercado de alimentos? Ou acha que estamos apenas começando a ver a ponta do iceberg?
Hoje, na História
Em fevereiro de 1997, foi lançado o primeiro site de apostas online do mundo, marcando o início de uma indústria que hoje movimenta bilhões.
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