Quem Paga a Conta da Construção do Futuro é o Presente
Não Existe Futuro Forte com um Presente Fraco.
As empresas vivem um dilema constante: equilibrar a necessidade de resultados imediatos com a construção de um futuro sólido. O presente exige eficiência, redução de custos e execução impecável. O futuro demanda experimentação, disrupção e investimentos muitas vezes incertos. Como conciliar essas forças aparentemente contraditórias?
A resposta está na ambidestria organizacional: a capacidade de operar com excelência no presente enquanto se reinventa para o futuro. Empresas que conseguem manter essa dualidade tornam-se mais resilientes, menos vulneráveis às oscilações do mercado e mais aptas a liderar suas indústrias.
Historicamente, muitas empresas que negligenciaram essa dinâmica acabaram desaparecendo. Kodak, Blockbuster e BlackBerry são exemplos clássicos de gigantes que focaram excessivamente no presente e ignoraram os sinais de transformação. Ao mesmo tempo, startups que apostaram exclusivamente no futuro, sem garantir a solidez financeira no presente, também sucumbiram.
O desafio é evitar esses extremos. Empresas ambidestras criam estruturas e mentalidades que permitem a coexistência da eficiência com a inovação. Elas estabelecem equipes dedicadas à exploração de novas oportunidades sem comprometer a estabilidade do core business. Elas sabem que a inovação precisa de financiamento e que esse financiamento vem da operação eficiente do agora.
Um erro comum é focar excessivamente no curto prazo. Pressionados por resultados trimestrais, muitos gestores sacrificam investimentos de longo prazo, sufocando a inovação e tornando suas empresas reféns de um modelo que, mais cedo ou mais tarde, se torna obsoleto. Isso acontece quando empresas cortam verbas de pesquisa e desenvolvimento, negligenciam novos canais de distribuição ou deixam de testar modelos de negócio emergentes.
Por outro lado, há quem se perca no futuro, investindo em ideias disruptivas sem garantir que o presente seja sustentável. O Vale do Silício está repleto de exemplos de startups que levantaram rodadas bilionárias, criaram produtos inovadores, mas falharam em estruturar um modelo financeiro viável. A disrupção precisa andar lado a lado com a disciplina operacional.
Empresas ambidestras sabem que um futuro forte só pode ser construído sobre um presente sólido. Elas investem em eficiência operacional sem abrir mão de iniciativas visionárias. Criam estruturas paralelas: times voltados para o core business, garantindo produtividade e margens, e equipes focadas em exploração, testando novas ideias, produtos e mercados.
Um bom exemplo de ambidestria é a Amazon. Enquanto consolidava sua posição no varejo online, não hesitou em investir em novos mercados, como computação em nuvem (AWS), dispositivos eletrônicos (Kindle, Echo) e inteligência artificial. Seu segredo foi equilibrar um fluxo de caixa saudável com investimentos ousados, permitindo que a empresa se reinventasse sem comprometer sua saúde financeira.
No final, o princípio é claro: não existe futuro forte com um presente fraco. Mas também não existe futuro para quem está preso no presente. O desafio está em transitar entre os dois tempos, construindo hoje a base que permitirá prosperar amanhã.
Empresas que dominam essa habilidade criam um ciclo virtuoso de crescimento sustentável, onde o presente financia o futuro, e o futuro rejuvenesce o presente. O sucesso está em quem consegue navegar entre esses dois mundos, sabendo que a conta do futuro sempre chega — e quem paga essa conta é o presente.