A Dicotomia da Desextinção
A empresa Colossal Biosciences conseguiu aquilo que até pouco tempo atrás parecia enredo de ficção científica: trouxe de volta à vida uma espécie extinta há mais de 10 mil anos. Sim, é isso mesmo.
Os filhotes de Aenocyon Dirus, conhecidos popularmente como lobos-terríveis, nasceram em outubro e foram apresentados ao público neste mês. Um feito histórico, biotecnológico e... profundamente questionável.
Sim, é um marco científico. Sim, é fruto de uma combinação impressionante entre biotecnologia e inteligência artificial. Sim, essa empresa já havia dado sinais do que era capaz quando revelou avanços na tentativa de reviver o mamute-lanoso.
Mas agora o cenário muda: estamos diante de uma vida que não existe mais por um motivo, sendo reintroduzida em um mundo completamente diferente. Essa espécie, trazida de volta, pode pertencer ao nosso mundo… mas nosso mundo pertence a ela?
O comunicado da Colossal é emblemático: “Após uma ausência de mais de 10.000 anos, nossa equipe tem orgulho de devolver o lobo-terrível ao seu devido lugar no ecossistema.” Mas que ecossistema é esse? O mesmo de 10 mil anos atrás? Difícil acreditar. O mundo mudou. Os habitats mudaram. As relações entre as espécies mudaram. E, talvez o mais importante: nós mudamos.
Aqui entra a dicotomia essencial do nosso tempo: a tecnologia caminha para permitir que tudo possa ser feito. Mas nem tudo que pode ser feito deve ser feito. Esse talvez seja o maior dilema ético da humanidade, daqui em diante.
A ciência da desextinção, que até então parecia uma utopia científica, agora bate à nossa porta com bilhões de dólares em investimento. A Colossal Biosciences já vale US$ 10 bilhões, e seu último aporte — de US$ 200 milhões — chegou em janeiro. Com esse feito, a tendência é que atraia ainda mais capital, ainda mais ambição, ainda mais aceleração. Mas onde estão os limites?
A ética da criação
Reviver espécies extintas envolve muito mais do que técnica. Envolve responsabilidade. Envolve contexto. Envolve propósito. Os lobos-terríveis, por exemplo, viveram em um ecossistema que não existe mais. Quais impactos sua reintrodução pode causar? Quem garante que eles vão se adaptar — ou, pior, que não causarão desequilíbrios ambientais severos?
Mais ainda: até que ponto estamos tentando corrigir a extinção — ou simplesmente brincar de Deus? O avanço da biotecnologia, impulsionado pela IA, está eliminando barreiras que antes pareciam intransponíveis.
O que antes levaria séculos para se tornar realidade agora acontece em meses. Mas se o ritmo da inovação não vier acompanhado de uma reflexão profunda sobre suas consequências, podemos transformar o extraordinário em perigoso.
Junior, comentei hoje isso com um amigo! O mundo não é mais o mesmo quando tinha 10 mil anos atrás, será valido ficar revivendo algo que foi extinto tanto tempo, porque não salvar os que se ficaram extintos por menos tempo, exemplo o leão-da-barbária ou Ararinha Azul aqui do Brasil, são pontos importantes a se olhar da perspectiva como perguntou "mundo pertence a ela?"